domingo, 4 de maio de 2008

PORTUGAL: OS NOSSOS PROBLEMAS

Portugal tem sido uma sociedade sem desenvolvimento e sem estratégia. Não se pode tirar outra conclusão do sistemático empobrecimento relativo que o país tem vindo a conhecer. Tínhamos em 1999 um produto per capita correspondente a 80,6% da média da Europa a 25 e a previsão é que tenhamos perdido 10 pontos e que no final de 2007 o produto corresponda a 70% da média europeia.

Somos o país mais pobre da Europa dos 15. A Grécia tem um PIB per capita, em relação à média europeia, 13 pontos acima do nosso e a Espanha cerca de 30 pontos. Já fomos ultrapassados pela República Checa, pela Eslovénia e por Chipre. Lisboa foi a região da Europa que mais empobreceu entre 2001 e 2003. O Centro, o Norte e o Algarve estão também entre as regiões que mais empobreceram.

A conclusão é simples, não nos soubemos preparar para o futuro e cada vez mais nos comparamos com os mais medíocres.

O ano de 2007 será o sexto ano consecutivo em que teremos taxas de crescimento abaixo da média da UE a 15 e 25.

Portugal parece ser assim uma sociedade fatalmente destinada a empobrecer em termos relativos, marcada por bloqueios persistentes.

A consequência destas medíocres taxas de crescimento é o aumento do desemprego, que afecta cerca de 8% da população activa, correspondente a mais de 490.000 portugueses.
Apesar dos custos sociais e humanos, o desemprego seria aceitável se resultasse da reestruturação da economia. Se nos permitisse aumentar a prazo o nosso nível de vida, o que não é o caso. Esta é uma questão central, se a economia portuguesa não se tornar mais competitiva, e não aumentar a taxa de crescimento para pelo menos 3%, o elevado nível de desemprego tornar-se-á estrutural, traduzindo o nosso empobrecimento relativo.

O elevado desemprego é ainda mais dramático porque Portugal está entre os países da UE-25 com maior número de pobres.

A pobreza afecta Portugal um em cada cinco portugueses.

Vinte por cento da população tem assim um nível de rendimento inferior ao mínimo necessário para viver com dignidade. Destes, mais de 75% são afectados por uma pobreza persistente.

É esta situação que explica que haja actualmente, de acordo com os especialistas, 200.000 dos nosso concidadãos numa situação de indigência e que a pobreza afecte 15% das crianças portuguesas, num dos países da UE que tem a mais desequilibrada e injusta distribuição de rendimentos, tendo os 20% mais ricos um nível de rendimento 7,4 vezes superior aos 20% mais pobres, sendo a média da UE a 15 de 4,5 vezes.

Sendo esta uma realidade brutal que não deixa ninguém insensível, o que é um facto é que os níveis de pobreza em Portugal não se reduziram na última década, apesar dos permanentes discursos sobre a exclusão social e reforço da coesão nacional.

O principal factor que determina a riqueza das nações e a competitividade das economias é inquestionavelmente o nível da educação da sua população.

A incapacidade que temos tido para prepararmos o futuro, está bem traduzido no facto de sermos um país em que o nível médio de escolaridade – cerca de 8 anos – está entre os mais baixos da OCDE. Um país em que apenas 23% da população entre os 25-64 anos tem um nível de habilitações correspondente ao ensino secundário ou superior.

A principal explicação para esta realidade encontra-se no ensino secundário, cujas estatísticas deveriam envergonhar-nos como país e só permitem uma conclusão: geração após geração não se tem dado suficiente atenção aos jovens portugueses.

Analisando as estatísticas, verificamos também que os resultados das políticas que têm sido seguidas para ultrapassar esta situação são insuficientes, para não dizer medíocres.

Apesar da melhoria das estatísticas, a mantermos o ritmo de evolução verificada precisamos de pelo menos 20 anos – 2 gerações – para atingir a média europeia. Não podemos esperar tanto tempo.

Não nos orgulhamos seguramente dos indicadores apresentados. Portugal não é certamente o país que gostávamos que fosse. Mas a verdade é o que é.

Embora seja fundamental criar um ambiente de optimismo, é preciso ter consciência que o país do espectáculo e propaganda política não corresponde ao país real.

A manutenção da realidade referida e a redução do nível de vida verificada nos últimos anos, conduziu a um sentimento de indiferença e desilusão, sendo hoje Portugal uma sociedade sem causas e desmotivada, esperando que a Europa melhore para ser arrastada.

Temos hoje os mesmos problemas de há dez anos. Não queremos certamente, dentro de 10 anos olhar para trás e ficar de novo com a sensação que temos hoje.

É por isso tempo de um novo tempo. É tempo de fazer o necessário e não apenas o possível. É tempo de ter coragem e de realizar as rupturas necessárias, para que as baixas taxas de crescimento e o empobrecimento não sejam fatalidades.

As reformas realizadas até agora pelo Governo são insuficientes ou nenhumas para a dimensão dos desafios que enfrentamos.

As estatísticas apresentadas mostram-nos que este não é o Portugal que queremos.

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